No meio da noite

Acordei meu bem para lhe contar um sonho:
sem apoio de mesa ou jarro eram as buganvílias,
brancas destacadas de um escuro.
Não fosforesciam,nem cheiram ,nem eram alvas
eram brancas no ramo, brancas de leite grosso.
No quarto escuro, a única visível coisa, o próprio ato de ver.
Como se sente o gosto da comida, eu senti o que falavam:
''A ressureição já esta sendo urdida,os tubérculos da alegria estão inchando úmidos, vão brotar sinos''.
Doía como um prazer.
Vendo que eu não mentia ele falou:
- as mulheres são tão complicadas.Homem é tão singelo.
Eu sou singelo.Fica singela também.
Respondi que queria ser singela na mesma hora, singela,singela,singela comecei a repetir singela.
A palavra se destacou novíssima, como as buganvílias do sonho.Me atropelou.
O que foi? - ele disse
- As buganvílias..
Como nenhum de nós podia ir mais além, solucei alto, e fui chorando chorando, até ficar singela e dormir de novo.


Adelia Prado